quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Galpão Nativo


Meu velho galpão de estância
Da pampa verde-amarela
Que ficou de sentinela
Da história de nossa infância
És um marco na distância
Da velha capitania
Porque foste a sacristia
Do batismo do gaúcho
Quando moldou-se o debucho
Da pátria que amanhecia
Quinchado de santa fé
Oito esteios, pau a pique
Até parece um cacique
Todo emprumado de pé
O legendário sepé
Legítimo rei no trono
Que desde o primeiro entono
Trazia a pátria nos tentos
Anunciando aos quatro ventos
Que esta pátria tinha dono
Velho bivaque nativo
Encravado na cochilha
Palanque de curunilha
Do rio grande primitivo
Altar do fogo votivo
Que um dia o guasca acendeu
E aceso permaneceu
Bordado de picumãs
Anunciando aos amanhãs
Que o gaúcho não morreu
Não existe nada igual
Em qualquer parte do mundo
Como o vínculo profundo
Do galpão tradicional
Que esse fogão ancestral
Que acalenta e arrebata
Nesta velha casamata
Onde o guasca viu a luz
Galpão que a história traduz
Como oficina de pátria
Foi aqui que se fundiu
Aqueles velhos modelos
Que serviram de sinuelos
Da pátria que constituíram
Da pátria que construíram
Que a isso se propuseram
E nunca se detiveram
Porque nunca se detinham
Pra perguntar de onde vinham
Nem tampouco quantos eram
Foi aqui que descansaram
Depois das lides guerreiras
Os centauros das fronteiras
Que irmanados chimarrearam
E foi daqui que marcharam
Os andejos e os gaudérios
Negros e mulatos sérios
E tapejaras errantes
Gaúchos e bandeirantes
Rasgadores de hemisfério
O grande poeta balbino
Marque da rocha escreveu
Que o riograndense cresceu
Dono do próprio destino
Peleando desde menino
Criado longe do pai
E é ele que um dia vai
De boleadeira e de vincha
E trás o brasil na cincha
Pras barrancas do uruguai
Esse é o galpão que cultuamos
Esse é o galpão que queremos
Esse é o galpão que erguemos
E o galpão que conservamos
Como dizia rui ramos
Velho tribuno imponente
Um pedaço de presente
E um pedaço de passado
E futuro enraizado
No subsolo da gente
Essa legenda, essa história
Essa história, essa legenda
Desta rústica vivenda
Da luta demarcatória
Da luta emancipatória
Da velha pátria comum
Não há preconceito algum
No velho galpão campeiro
Ao pé de cujo braseiro
Sempre há lugar pra mais um
Tribunal e refeitório
De maulas e milicianos
De charruas e milicianos
Sem pátria nem território
Hoje és, galpão, repertório
Daquelas charlas fraternas
E das lembranças eternas
Das saudades que ficaram
Dos centauros que matearam
Nos teus cepos de três pernas
Porém te resta o encargo
Velho galpão ancestral
Legendária catedral
De pátria e de pampa largo
No ritual de mate amargo
Ainda existe cevadura
És um templo na planura
De paz, amor e carinho
Pra iluminar o caminho
Da grande pátria futura
Mas se não houver campo aberto
Lá em cima quando eu me for
Um galpão acolhedor
De santa fé bem coberto
Um pingo pastando perto
Só de pensar me comovo
Eu juro pelo meu povo
Nem todo o céu me segura
Retorno a velha planura
Pra ser gaúcho de novo


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